quinta-feira, novembro 09, 2006

à superfície do fogo a respiração dos equilíbrios
a frágil ironia dos contrários os espaços cheios de vácuo
os grafismos que se soltam dos murmúrios das plantas
rasteiras à beira-mar

no coração do lume as palpitações das águs presas
os cordões umbilicais que se entrançam enegrecem
as vísceras que escutam Bach cantam os coros voláteis
rompem-se em partículas não observáveis

nas almas reluzentes dos nados-mortos deitados sobre
véus de noivas dilacerados tingidos de invisivilidade
as portas intransponíveis dos outros universos
que de longe nos acenam improbabilidades poéticas

m.f..s.

retorno a ti o corpo sem substância o corpo sem corpo
neve derretida nas covas da pele rochosa de montanhas sem idade
retorno um esboço de um esboço à espera do vigor do traço criativo

m.f.s.


o ladrão que se aproximava tinha o rosto branco como os mascarados de veneza
nas fendas dos olhos havia o negrume que cobre as noites do outro lado da lua

não tinha forma a sua alma de transgressor que procura o próprio rasto
o rutilar das mãos cegava os que o seguiam pelas veredas dos rios

o movimento dos seus pensamentos cravava rotas impossíveis
guiava a sua natureza quântica pelas presenças eternas e omnipresentes

mudava o seu destino e o de todas as outras fugidias representações
repercutia-se pelos diversos níveis da existência em ondas infinitas

m.f.s.


jardim suspenso como a ilha de Swift
habitado como as colmeias
desenhado a carvão no cérebro do criador

cheio de brisas valsantes e musicais
candeeiros descendo das nuvens
corpos velhos de espíritos novos
nas relvas esmeráldicas

o chilrear de todas as crias
vogando no vazio dos átomos
presentes ao mesmo tempo
em todo o lado
ligados pela existência

jardim de sangue
jardim de carne
jardim

m.f.s.

fugiste com lama nos pés
catadupas de estrelas em teus olhos
voando pelo espaço arrastadas
pelo vento que te roça o rosto
saltaste os abismos entre as montanhas
arrancaste as raízes que te prendiam
ao pântano

m.f.s.


do fundo do oceano brotam as ilhas

em grandes haustos arranham as nuvens
arrumam-se
vestem-se de verdes
enfeitam-se de asas bicos patas
grasnidos semeiam areias de
ouros rubis...diamantes

à noite murmuram com o oceano
os sombreados rugidos das águas

m.f.s.


antes de se despedirem soltam imagens de transparências
como as fotografias de luzes arrastadas
olham para um vácuo privado entre duas galáxias
balançam os corpos lentamente como sonhos que se alongam

afastam-se do parceiro de uma estação
erguem os pescoços fitam as neblinas
gargarejam sonoridades jazzísticas
imobilizam-se como se rezassem

levantam voo para os pântanos do norte
em nuvens de asas esvoaçantes

m.f.s.