domingo, fevereiro 18, 2007

Chegada

Cheguei de Singapura
No avião escrevinhei o que aqui vai. Não consigo melhor que isto.
Mas eu não sou poeta nem pretendo sê-lo.

o vaso de flores à minha janela
pressagia desencontros
nas praças públicas

cortam-se os cabelos às rainhas
nas madrugadas
antes do cadafalso

as mãos seguram
o ar que se esvai
dos pulmões enfraquecidos

os cabelos cortados são lançados
à água dos rios tranquilos
onde repousam todas as ofélias
de olhos virados para os céus

o vaso deixa cair as flores
sobre os corpos das rainhas
separadas dos seus súbditos

as antonietas
já sem cabeleiras nem pós brancos
nos rostos
tornados mármores de gelo
pelo ódio popular
carmins desfeitos na voragem
das bocas
esfomeadas

continuam os desencontros
nas praças públicas
os reis são destituidos das suas
varandas

arrancam-lhes as vestes de
brocados
fazem deles marionetas
nas cordas das forcas doiradas

corvos uivam
os bicos muito amarelos
as penas de negro azul
nas praças públicas desertas

m.f.s.

2 comentários:

Anónimo disse...

É bom sentir através do que vê e sente.

Belo poema.

Boa viagem, nós por cá vamos estando:)

Isabel

Anónimo disse...

Obrigada, Isabel.