sábado, julho 07, 2007

escrito

espera a fortuna o canto da sereia
que impulsione a alavanca das ironias

o homem nada sabe de quiproquos

as taxas telefónicas alargam-se alegremente
nas contas mensais
nas casas abandonadas do médio termo
na meia idade
no meio do terreno insuflado
dos caracois acalorados

as elegantes pernas das jovens esperançosas
deixam ver o movimento dos músculos
bem treinados
ao alvorecer

o homem olha sem ver as sombras do seu
pouco cabelo
murmura inarticulações
finge onomatopeias
o homem sonha no largo da aldeia

o vento desafia a estabilidade dos ninhos
incompletos
que algum pássaro prestes a ser pai
iniciou num alto andar
de alguma árvore queixosa
dos alugueis por pagar

os camaleões reviram os olhos versáteis
ensaiam outras cores
atravessam o calor dos caminhos
amedrontados

o artista plástico imagina colagens
amálgamas de cenários
janelas mil na sua tela premonitória
planos vários
ambientes impossíveis

o artista apresenta a sua obra imaginada
a si mesmo
desgosta-se
rompe a unidade do suporte
deixa para outro dia
as imagens do homem que sonha
do camaleão medroso
dos pássaros-quase-pais
das sereias afogadas
das jovens de inuteis belezas musculares

o artista decide abdicar de taxas telefónicas

m.f.s.

1 comentário:

Anónimo disse...

E assim vai passando a Vida...