sexta-feira, novembro 28, 2008

escrito vadio

abanou a cabeça como se sobre ela pairasse a ave das penas rubras
o bico aberto para dele sairem os galanteadores gorgeios
as asas encurraladas no exíguo corpo de arlequim desviado
patas de garras domesticadas às vezes nas planícies
dentro do burburinho dos anónimos pensadores
corpo nú em modelados músculos
o punho sob o peso do queixo que dos olhos desconhece os vislumbres

abanou os ombros anquilosados nos casacos de fria textura
as comédias de verão desenhando-se paulatinamente
nos acordados sonhos de inverno hibernador
os cabelos em volutas desmanchadas com brilhos de cinza de páscoas
os pés impacientes no cucuruto dos montes sem alentejos
as rochas que pedem permissão para rebolarem pelas encostas

estacou na vitrina embaciada do café provinciano
em praceta vaidosa de repuxos municipais eleitoralistas
desviou a mente os olhos as mãos todo o periclitante corpo
da tentação do recanto aconchegador dos braços estendidos
da mãe morta há vinte anos nos brasis interiores

apagou-se o reflexo no vidro rachado dos olhares curiosos
e assim partiu o sebastião esperado o holandês voador atracado
na aldeia cheia de túlipas roxas os bandarras calados enfim


mfs

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