sábado, janeiro 03, 2009

Manuela Parreira da Silva

MURALIDADE


A CASA

Penduras a pele no bengaleiro e entras
no meu quarto andar direito e voraz.
Deste lado fumega, eterno, o atanor e a mesa
está posta para a ceia travessia da noite.

OS JARDINS

Sou, naturalmente, Margarida, cicerone da
floresta simulada. Aqui se demoram as crianças
e os namorados suspendem, em beijos,
a densa vedação. Aqui estão os velhos
cirurgiões de novembro. E, aos domingos,
o pastor põe-se a cantar um salmo novo.
«Diz-me, meu amor, onde guardas o rebanho».
para que eu possa guiar a solidão.

O CASTELO

Habita-me um dragão, uma princesa, um trono
esculpido de narcejas. Soluços de servo fustigado
ressoam no alçapão, no labirinto.
Um cavaleiro aproxima-se da ponte levadiça
e galopa, apressado, para me conquistar.
Estremecem-me as paredes sismo de desejo
(as pedras amam e alguém mais, certamente, o descobriu).

MANUELA PARREIRA DA SILVA
CASTRO VERDE - 35 anos
Anuário de Poesia
Autores não Publicados
assírio & alvim
1986

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